A dança árabe é determinada pelo acompanhamento musical. Esta música nunca é simplesmente pano de fundo. É tarefa da bailarina expressar as emoções solicitadas pela música e durante improvisações destacar a qualidade do instrumento que sola, extraindo dele sua qualidade essencial, tudo através da dança. O termo música arábe é enganoso. Notas, ritmos, instrumentos e estilos de canto variam de país para país. Ainda assim, toda música árabe compartilha certas semelhanças. Uma delas é que dentro de sua estrutura formal, ela reteve do passado uma fortíssima qualidade na improvisação e em sua essência ela é altamente melódica.
Ao contrário da música ocidental, ela não desenvolveu o uso da harmonia. A razão básica é que harmonia depende de um sistema tonal fixo (um espaço invariável entre notas). Toda escala na música árabe tem certas posições fixas – tons e meios tons – como na música ocidental, mas entre eles existem notas sem lugar fixo e que caem em posições ligeiramente diferentes numa escala cada vez que são tocadas.
Na música árabe, uma única oitava pode conter algo entre 18 e 22 notas com intervalos tão pequenos quanto a nona parte de um tom. As únicas composições que podem incluir harmonias simples são aquelas aseadas na melodia e escala ocidental. É este tipo que ouvimos nas gravações orquestradas modernas.
Dentro do elaborado sistema de escalas da música árabe, os instrumentistas tem espaço para explorar a melodia, mais ou menos da mesma forma parecida que uma improvisação de jazz. Isto é feito utilizando a melodia e tecendo padrões complexos ao redor dela, do mesmo modo que a arte islâmica começa com um motivo central e ornamentos ao redor dele para construir os padrões arabescos.
O mais próximo que podemos chegar da antiga música árabe é o que vemos na estrutura formal Arabe-Andaluz, um estilo de Maghreb. Os mouros, termo europeu para designar os árabes e bérberes, ficaram na Espanha por 700 anos. Inicialmente conquistaram a Andaluzia, como eles a batizaram no início do século VIII e por algum tempo ela permaneceu não mais do que uma remota província do Império Islâmico em expansão. Ainda em tempo, a Andaluzia, que compreendia uma área maior do que a que conhecemos hoje por este nome, se tornou o maior canal da civilização islâmica para o Ocidente. Nos idos de 750 a dinastia de Umayyad foi expulsa de Damasco e se estabeleceu na Andaluzia. A apaixonante cultura Ummayyad trouxe a música tradicional da Arabia Oriental para Espanha, onde mais tarde foi modificada pelas influências gregas e se tornou a música Árabe-Andaluz que estabeleceu suas raízes no Norte da África.
Em 1822 o músico Zuyab chegou na Espanha da Corte Abassid de Bagdá, trazendo com ele formas musicais persas que tinham sobrevivido na Andaluzia e ainda hoje permanecem no flamenco. O primeiro conservatório de música foi fundado no século XII em Córdoba, naquele tempo um dos centros culturais mais celebrados da Europa. Até aquele momento, a maioria dos habitantes da Andaluzia falavam árabe e tinham adotado a fé do Islamismo. A dominação islâmica da Espanha durou até o século XV quando a unidade do califado se enfraqueceu e aconteceram divisões étnicas e tribais, expulsando os muçulmanos da Europa em 1492.
A penetração múltipla de estilos artísticos na Espanha Mourisca deixou mais do que uma esplendida arquitetura.
No sentimento, o ritmo do cantar, a música da Espanha é mais árabe do que européia. Flamenco é uma mistura de elementos mouriscos, andaluzes e ciganos, e sua forma mais antiga é especialmente árabe no sabor com ritmos separados por leves pausas. Esta é uma característica tanto das canções quanto das composições instrumentais.
O principal instrumento do flamenco, a guitarra (violão), se desenvolveu a partir do alaúde, o clássico instrumento da música árabe. O alaúde, que provê tanto a melodia quanto o ritmo, é o protótipo no qual a teoria da música árabe é baseada. Ele é cavado um único bloco de madeira. Através da Espanha Mourisca, o alaúde encontrou seu caminha para o resto da Europa, mais tarde se transformando na guitarra dos dias de hoje.
Para examinar a música de todos os países árabes levaria o tempo e o tamanho de um livro. Aqui estão apenas algumas informações sobre o estilo da música oriental, exemplificadas pela música egípcia, a qual tem absorvido a maioria das mudanças ao longo do anos e é a mais ligada com os solos usados na dança feminina.
A música oriental inclui muitas tradições desde Iraque até Egito. É difícil fazer a distinção entre música clássica e popular. A música clássica é um refinamento da tradição folclórica. A música menos sofisticada, ou folclórica, do Norte da África e também do Oriente Médio é aquela que acompanha a danças tradicionais tais como a marroquina "chikhat" ou a egípcia "ghawazee".
Quando mulheres se reunem informalmente para se divertir, elas produzem músicas cantadas batendo palmas e usando instrumentos de percussão como bendir e seu equivalente no Oriente Médio, daff.
Contra tempos são tocados, usando diferentes tipos de palmas, as mãos como conchas produzem som opaco, enquanto bater as pontas dos dedos contra as palmas resulta num som claro e agudo. Essa riqueza e elaboração na forma de bater palmas é uma característica especial da música do Norte da África. O único tambor tocado com bastões, ao invés das mãos é o "tabel baladi" um enorme tambor de duas faces que é pendurado por uma tira em volta do pescoço do músico. Seu som profundo e pesado, faz dele um instrumento popular para todas as celebrações que envolvem procissões, tais como casamentos e cerimônias religiosas.
Os instrumentos rítmicos de música oriental tanto folclórica quanto clássica são o derbak (darbuka na África) e o tabla (no Egito). Este instrumento parecido com o pandeiro ou pequenos tambores do Brasil, produz sonoridade intensa e nas mãos de um músico habilidoso, os mais sutis embelezamentos na música.
A música oriental moderna tem sido influenciada de diversas formas pelo Ocidente, formas que às vezes são bem-vindas, e as vezes não. No Yemen, músicos que tocam canções ou melodias tradicionais são respeitados enquanto outros que utilizam um estilo ocidental são tratados com desprezo. Contrariamente no Egito e Líbano música ocidental tem sido aceita pela diversidade que oferece. A influência ocidental na música egípcia deriva das tentativas no final do século XIX para modernizar o país e do impacto posterior da mídia. Este impacto foi concentrado nas grandes cidades.
Do final do século XIX para frente, novas escalas melódicas padrões métricos e tipos de composição foram absorvidos dentro da música no Egito, enquanto o tipo de instrumentos usados numa orquestra mudavam e cresciam em variedade. O "tabla" originalmente um instrumento "baladi" se tornou proeminente nas orquestras apenas depois de I Grande Guerra Mundial. O tradicional grupo de quatro ou cinco instrumentos cresceu para uma orquestração completa. O estilo europeu das bandas militares resultou na gradual adição dos metais, enquanto violino, orgão elétrico, acordeom e violoncelo gradualmente foram aceitos e se transformaram em parte de uma orquestra egípcia.
Quanto maior o número e a variedade dos instrumentos, mais fácil é criar uma rica sonoridade. Como as bandas cresceram de 5 a 6 componentes para as grandes orquestras de hoje, também a música ganhou uma textura mais rica, com instrumentos específicos ou grupos de instrumentos dominando certos trechos da música. Os percussionistas produziram uma ornamentação mais complexa nos ritmos, e uma música que no passado tinha sido principalmente improvisada se tornou mais estruturada.
Texto escrito por Lulu Sabongi
Em outubro haverá uma nova coluna no blog com enfoque musical na Dança do Ventre, caso tenham alguma sugestão, comentário, dúvida ou pedido, peço que enviem para carolinnemahin@gmail.com
Beijos
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