Marrocos
é um país com folclore diversificado, costumes e tradições que sobrevivem até
os dias de hoje.Dentro das muitas
manifestações
expressivas das tribos, uma que chama a atenção por sua peculiaridade é a
Guedra. Este é um ritual dançado, com raízes ancestrais, a música leva ao transe
durante sua execução. Suas origens são tema de especulação.
A Guedra
é associada com a Aldeia de Goulimine, no sudeste do deserto marroquino. O
nômades desta região são conhecidos como o Povo Azul ou Tuaregues.São chamados
desta forma pois usam como vestimenta um manto de cor azul profundo, a tintura
usada para dar cor ao tecido solta resíduos na pele o que faz com que a cor
azul esteja presente não apenas em suas roupas mas também em seu corpo.
O nome
Guedra pode ter vindo do tambor que é tocado para manter o ritmo específico
para este ritual. A palavra Guedra significa pote, panela em árabe. O tambor é
confeccionado com este recipiente e tem o topo ou abertura coberto por
pele de cabra , esticada e presa em toda a borda. Este instrumento é o reponsável
único pela parte sonora desta dança. Nenhum outro instrumento é tocado. A dança
acontece de acordo com as batidas deste tambor acompanhadas pelas palmas do
público. O ritmo não tem enfeites ou ornamentos, é hipnótico e estável. A
pulsação se mantém através do ritmo e da misteriosa linguagem das que dançam. O
canto dos espectadores se modifica passando por respirações e um choro gutural.
O
propósito da dança é servir como benção para amigos ou um casal no dia de seu
enlace. A própria comunidade pode ser a razão do encontro. Diferenciando-se do
ritual usado para apaziguar os maus espíritos ou do exorcismo encontrado na
dança chamada Zaar.
Alguns
dizem que Guedra tem o poder de atrair uma alma distante, atraída pelo místico
ritmo da percussão. O papel desta dança é tido como esotérico na medida em que
carrega diversos significados e simbolismos. Ele começa com uma mulher que
parece uma massa negra e sem forma, representando a noite, o caos, o lago do
entendimento ou energia cósmica. A massa se move de acordo com o ritmo, se
tornando turbulenta, representando a exaltação de um universo que se organiza
aos poucos. Os movimentos das mãos falam da paixão, drama, beleza, prazer e
sofrimento, uma escala completa de emoções. Então um silêncio repentino restaura
a energia para o seu estado essencial, antes da criação.
Geralmente
uma mulher dança circundada por pessoas. A dançarina de joelhos com um véu
negro que a cobre completamente chamado, Haik. Suas mãos emergem desta noite
escura, na luz do fogo seus dedos e mãos se movem, sapecando, vibrando,mandando
pequenas gotas de energia pelo ar. Os movimentos são feitos com este propósito,
para as quatro direções cardinais, e para os elementos , terra, ar, fogo e
água. Representando o tempo, passado, presente e futuro. O dedo indicador é
separado dos outros dedos pois acredita-se que a essência da alma pode ser
emanada por este dedo.
O clímax
da dança é construído pouco a pouco, a dançarina move seu corpo de um lado para
o outro de forma acentuada e penetrante. Ao mesmo tempo é delicada e leve. Suas
tranças oscilam, ela pode caminhar ou se arrastar de joelhos, mas mantém o
movimento acontecendo na parte superior de seu corpo. Ela ondula, faz rotações,
deita para trás, se equilibra e inclina-se para trás até que sua cabeça toca o
chão O véu negro cai e a dançarina é descoberta e tem seus olhos fechados. O
ritmo acelera. Todos os expectadores estão em delírio e gritam encorajando-a. A
dançarina então joga toda a sua energia num movimento alegre. Apenas quando o
ritmo avança num crescendo, há um silêncio abrupto e a dançarina desmorona no
chão como num desmaio. Ela é então substituída por outra que toma o seu lugar.
Apresentar esta dança pode induzir a um estado hipnótico ainda que esta não seja
a meta real da mesma.
A roupa
tradicional é essencial para a dança. Esta dança nunca deve ser executada
usando a versão mais comum de traje que temos soutien e cinturão acompanhados
de saia e véu. Isto é absolutamente impraticável. O véu negro que cobre a
cabeça e todo o corpo da bailarina no início da dança é uma peça única de
tecido bem largo. Ele fica preso na frente da roupa por dois alfinetes, que tem
uma longa corrente guarnecida entre eles. A touca na cabeça é decorada com
conchas, e tranças artificiais pendem dele.A dançarina entrelaça seu cabelo com
as tranças falsas para manter este adereço de cabeça no lugar, ele é decorado e
tem sua estrutura feita de um arame fino. O adereço deixa um espaço de
ventilação acima da cabeça o que é bastante prático para alguém que mora no
deserto, ao mesmo tempo o espaço permite que as tranças se movimentem e libera
os meneios de cabeça. As mãos são decoradas com desenhos feitos de henna, e
ficam enfatizadas dentro do contexto geral, enquanto a maior parte do corpo
está totalmente coberta. A riqueza do folclore Marroquino pode facilmente ser
apreciada em sua forma mais superficial, mas dificilmente compreendida em seus
mistérios mais profundos.Uma seqüência filmada preciosa está presente no vídeo,
" Rare Glimpses" produzido por Ibrahim Farah. Neste vídeo, pode-se
ver um momento real de Guedra gravado por volta de 1952.
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