quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Guedra





Marrocos é um país com folclore diversificado, costumes e tradições que sobrevivem até os dias de hoje.Dentro das muitas
manifestações expressivas das tribos, uma que chama a atenção por sua peculiaridade é a Guedra. Este é um ritual dançado, com raízes ancestrais, a música leva ao transe durante sua execução. Suas origens são tema de especulação.

A Guedra é associada com a Aldeia de Goulimine, no sudeste do deserto marroquino. O nômades desta região são conhecidos como o Povo Azul ou Tuaregues.São chamados desta forma pois usam como vestimenta um manto de cor azul profundo, a tintura usada para dar cor ao tecido solta resíduos na pele o que faz com que a cor azul esteja presente não apenas em suas roupas mas também em seu corpo.
 
O nome Guedra pode ter vindo do tambor que é tocado para manter o ritmo específico para este ritual. A palavra Guedra significa pote, panela em árabe. O tambor é confeccionado com este recipiente e  tem o topo ou abertura coberto por pele de cabra , esticada e presa em toda a borda. Este instrumento é o reponsável único pela parte sonora desta dança. Nenhum outro instrumento é tocado. A dança acontece de acordo com as batidas deste tambor acompanhadas pelas palmas do público. O ritmo não tem enfeites ou ornamentos, é hipnótico e estável. A pulsação se mantém através do ritmo e da misteriosa linguagem das que dançam. O canto dos espectadores se modifica passando por respirações e um choro gutural.

O propósito da dança é servir como benção para amigos ou um casal no dia de seu enlace. A própria comunidade pode ser a razão do encontro. Diferenciando-se do ritual usado para apaziguar os maus espíritos ou do exorcismo encontrado na dança chamada Zaar.

Alguns dizem que Guedra tem o poder de atrair uma alma distante, atraída pelo místico ritmo da percussão. O papel desta dança é tido como esotérico na medida em que carrega diversos significados e simbolismos. Ele começa com uma mulher que parece uma massa negra e sem forma, representando a noite, o caos, o lago do entendimento ou energia cósmica. A massa se move de acordo com o ritmo, se tornando turbulenta, representando a exaltação de um universo que se organiza aos poucos. Os movimentos das mãos falam da paixão, drama, beleza, prazer e sofrimento, uma escala completa de emoções. Então um silêncio repentino restaura a energia para o seu estado essencial, antes da criação.



Geralmente uma mulher dança circundada por pessoas. A dançarina de joelhos com um véu negro que a cobre completamente chamado, Haik. Suas mãos emergem desta noite escura, na luz do fogo seus dedos e mãos se movem, sapecando, vibrando,mandando pequenas gotas de energia pelo ar. Os movimentos são feitos com este propósito, para as quatro direções cardinais, e para os elementos , terra, ar, fogo e água. Representando o tempo, passado, presente e futuro. O dedo indicador é separado dos outros dedos pois acredita-se que a essência da alma pode ser emanada por este dedo.

O clímax da dança é construído pouco a pouco, a dançarina move seu corpo de um lado para o outro de forma acentuada e penetrante. Ao mesmo tempo é delicada e leve. Suas tranças oscilam, ela pode caminhar ou se arrastar de joelhos, mas mantém o movimento acontecendo na parte superior de seu corpo. Ela ondula, faz rotações, deita para trás, se equilibra e inclina-se para trás até que sua cabeça toca o chão O véu negro cai e a dançarina é descoberta e tem seus olhos fechados. O ritmo acelera. Todos os expectadores estão em delírio e gritam encorajando-a. A dançarina então joga toda a sua energia num movimento alegre. Apenas quando o ritmo avança num crescendo, há um silêncio abrupto e a dançarina desmorona no chão como num desmaio. Ela é então substituída por outra que toma o seu lugar. Apresentar esta dança pode induzir a um estado hipnótico ainda que esta não seja a meta real da mesma.

A roupa tradicional é essencial para a dança. Esta dança nunca deve ser executada usando a versão mais comum de traje que temos soutien e cinturão acompanhados de saia e véu. Isto é absolutamente impraticável. O véu negro que cobre a cabeça e todo o corpo da bailarina no início da dança é uma peça única de tecido bem largo. Ele fica preso na frente da roupa por dois alfinetes, que tem uma longa corrente guarnecida entre eles. A touca na cabeça é decorada com conchas, e tranças artificiais pendem dele.A dançarina entrelaça seu cabelo com as tranças falsas para manter este adereço de cabeça no lugar, ele é decorado e tem sua estrutura feita de um arame fino. O adereço deixa um espaço de ventilação acima da cabeça o que é bastante prático para alguém que mora no deserto, ao mesmo tempo o espaço permite que as tranças se movimentem e libera os meneios de cabeça. As mãos são decoradas com desenhos feitos de henna, e ficam enfatizadas dentro do contexto geral, enquanto a maior parte do corpo está totalmente coberta. A riqueza do folclore Marroquino pode facilmente ser apreciada em sua forma mais superficial, mas dificilmente compreendida em seus mistérios mais profundos.Uma seqüência filmada preciosa está presente no vídeo, " Rare Glimpses" produzido por Ibrahim Farah. Neste vídeo, pode-se ver um momento real de Guedra gravado por volta de 1952.

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